sexta-feira, 12 de junho de 2009

Almas Indianas




Recordar é viver diz o velho ditado...

No blog temos a liberdade de expressar os nossos sentimentos de toda as formas possíveis e recebemos comentários de amigos que muitas vezes só conhecemos virtualmente. Mas sempre é um prazer receber comentários.

Isto faz com que abrimos espaço para grandes amizades.

A comunicação informatizada interagiu de tal forma que não existem distancias entre os povos, como dizia o meu velho pai: Um dia não haverá distancias só existiram os caminhos..

Em umas das minhas postagens surgiu um nome de Aníbal malequê no começo eu achei estranho este nome, pois era um nome de um apelido que tinha colocado em um amigo indiano, que morava na rua Alexandre Baraúna, um pouco abaixo da rua, perto do canal do jardim América. Por isso resolvi escrever esta postagem.

Um detalhe, se for mesmo o Aníbal Malequê o indiano que conheci há muito tempo atrás com certeza irá manifesta-se com as historias que passarei a contar e os segredos que jamais contei a ninguém.

Isto só acontece quando a alma fica em desatino procurando as vertentes da consciência, forçando os lábios a falar coisas que foram muito significantes.

Uma coisa eu tenho a certeza que este nome de Aníbal Malequê é apelido e não nome próprio. Porque...não existe e nunca existirá um indiano com nome desse.

A vida é uma caixa de presentes...Cheias de surpresas, para não deixar duvida resolvi homenageia-lo contando trechos de nossas vidas que acontecerá em nosso pacato bairro de classe media, onde tudo era um motivo para achar que a vida tem que se vivida intensamente todos os dias.

Aníbal malequê era o apelido que coloquei devido a sua largas sobranceiras do Aníbal um dono de uma mercearia no montese e malequê devido o ser raquítico com jeito pilhérico. Então...Juntei os nomes e o chamava de Aníbal Malequê. Mas na realidade o seu nome era Rachid abhaya.

Rachid era um indiano esquisito cheio de onda gú com vestimentas extravagantes usava um perfume de encenso de um falar arrastado com a voz amena mais possuidor de um grande caráter de um coração leal e carismático.

Lembro demais da sua chegada no bairro e no dia que o caminhão de mudança chegou em sua nova morada.

Nos anos de 1960 a maior das brincadeiras era passear de bicicleta por todos os bairros e descobrindo novos lugares, fazendo vários amigos e curtindo as tertúlias nas casas das garotas ao som do rock roll e o twist.

Em certa ocasião em pleno mês de junho época de festividade junina onde o ar fica leve os ventos ficam mais fortes e corre uma brisa serena e festiva. Não sei se todo mundo tem sensibilidade de sentir...Pois eu sinto sempre em todos meses de junho.

Um dia de manhã aquieta do mês de junho estava passeado pela rua Alexandre baraúna e já no final da rua aproximou-se um caminhão de mudança para em frente de uma casa que estava para ser alugada e que ainda existia a placa com respectivos dizeres de Aluga-se Casa. Então desceram quatro pessoas: um casal, uma menina e um menino com indumentária estranha bem diferente e fiquei admirando os desconhecidos. Foi então que se aproximou um senhor de chapéu do panamá de paletó branco bem vestido olhou para família e falou em um língua diferente. E do outro lado da calçada, outro homem bem alto de cor morena com sobrancelhas largar cumprimentou de uma forma .bastante estranha. O homen de branco aproximou-se do homem estranho ficou trocando palavras que não conseguir entender bem o que eles falavam, só sei que fiquei muito confuso e atônico.

Enquanto isso os homens da mudança descarregava os seus objetos e aos poucos o caminhão ia ficando vazio. O mais curioso disso tudo é que eles tinham poucos moveis, mais em compensação uma quantidade de tapetes cortinas e caixa mais caixa de roupas de cores. Eu achava muito interessante e ficava a pensar que se tratava de uma artista de circo famoso, que se apresenta em uma das praças de Fortaleza ou mesmo em nosso Bairro.

Voltei para casa e fui contar esta novidade pra minha mãe. Quando cheguei, ela foi logo perguntando onde eu andava e fui logo contando as novidades da estranha mudança que eu tinha presenciado.

Por surpresa minha, ela ficou irritada comigo e disse que nunca fizesse isto de novo, de ficar observando coisa nos outros e logo me mandou subir para meu quarto, onde fiquei lendo o livro de Eça de Queiroz que tinha o titulo as minas de Salomão era um bom livro gostava das aventuras e lia páginas por paginas e no contexto ia imaginado e vivendo cada momento as passagens desta aventura.

De repente ouvi som de um relógio de corda alemão que ficava na sala de jantar de minha casa, era muito bonito que tocava em quinze em quinze minuto, suando um carrilhão com som de sinos a cada hora e seus badalos eram fortes marcando cada tempo às horas, era bonito este relógio. Hoje, está em minha sala tocando e registrando os acontecimento de um novo tempo, imóvel com o seu pêndulo em movimento manso bem característico e repetindo o mesmo carrilhão como nada soubesse da historia.

O tempo ia passando e não saía de minha cabeça aquela gente tão estranha que tive o prazer de observá-la. Pois, em todo meus passeios, sempre retornava a passar em frente aquela casa que ficou conhecida por mim como a Casa do Circo.

Os meses foram se passando, quando chegou no fim do ano época do natal existia atrás de nossa casa uma praça enorme onde íamos andar de bicicleta e brincar de jogar futebol. Esta praça era chamada Presidente Franklin Delano Roosevelt, que até hoje eu ainda não sei porque colocaram este nome de um presidente americano, pois não tenho nenhum conhecimento de um fato heróico em pro dos Brasileiros. Principalmente de nós Cearenses.

Acho, que esta praça devia ser chamada de Praça do Jardim América e pronto.

Pois foi desta praça, os meus primeiros contatos com esses estranhos.

Eu estava passeando, quando de repente aparece em minha frente uma menina em uma bicicleta que tinha uns cabelos grandes bem pretos passando na frente fazendo zig-zag e repente ela caiu, ficou na calçada chorando e fui socorrê-la deste acidente, estava com joelho muito machucado.

Como minha casa tinha fundos correspondentes com a praça, levei para casa para ser medicada. Então seu irmão chegou e ficou falando umas palavras em uma língua estranha, mas insistir levar até minha casa.

Minha mãe, tratou-lhe com todo carinho e eles, continuavam a falar com esta língua estranha, até que finalmente ela olhou para mim disse obrigada...e completou com palavras estranhas. A Partir daí, ficamos amigos e a lembrança desta amizade ficou para sempre.

No começo do outro ano quando fui estudar no colégio Cearense a primeira pessoa que encontre foi com Aníbal Malequê e ficarmos no intervalo de cada aula conversando.

Em uma desta conversa perguntei em que lugar da índia eles moravam? Então ele disse que era do Sri lankar, é que seu pai tinha sido convidado pelo governo brasileiro para ensinar Matemática na universidade daqui.

Depois de bom tempo que soube da verdadeira historia de seu pai. Era verdade, que seu pai era professor, mas o motivo de sua vinda para o Brasil foi devido uma revolução civil existia no Sri Lanka, desde quando se tornou independente da Inglaterra, criou uma facção separatista concentrado ao norte do país então uns grupos de tamiles passaram a querer dominar os singaleses, então institui um clima de rebeliões entre eles. Foi por este motivo que ele vieram para Brasil.

Um dia ele levou-me para sua casa e apresentou-me a sua mãe. Era uma senhora muito bonita tinha uns cabelos grandes olhos negros e grandes e sua pele era de cor morena, era bem fascinante. Gostava de escrever em uma maquina estranha com os tipos horizontais, mas tinha uma habilidade e eu ficava horas admirando como escrevia. Ela também era professora de artes, ballet, dança e pintura. Tinha um carinho todo especial por mim ensinou-me a dança raga com Rutajit sua filha que a conhecera no acidente da bicicleta, foi deste momento é que reparei como era linda, vestida com sari azul cobrindo o seu corpo escultural de cor que ninguém possui, cheio de bijuterias e de aroma das plantas silvestres, fui dançando o raga envolvendo entre laços de supostas caricia e gestos sexuais. E bom que se diga modestamente eu dançava muito bem.

Foi com Rutajit que participei de uma peça teatral fazendo o papel de marido e tinha um papel fundamental na peça, com personagem com o nome de Nagib. Não tardou muito ficamos íntimos a ponto de ensina-me as primeiras continências e as fantasias lascivas, tudo isso ao som do sucesso da música de The sound of silence.

Na índia a musica representa muito para eles em todos os sentidos é a expressão maior de afeto, tristeza, prazer é tudo dentro do contexto espiritual.É por isso que musica é chamada de raga.

Mas o que é Raga. A raga surgiu ao no norte da índia desde o século XVII literalmente tem um significado de cor, sentimento, é uma combinação de sons e intervalos que podem variar até um infinito dentro de um modulo fixo e as emoções que ela desperta.

Cada raga representa um estado de espírito e tem um propósito de suscitar ou prolongar determinado estado da alma do ouvinte e sua duração oscila entre duas horas e minutos, isto vai depender muito do espírito do ouvinte e seu estado da alma.

A diversos tipos de raga para ser preciso existe quatro tipos: raga megh, raga todi,raga vasant,raga Ialit, cada dança com a sua característica.

Lembro bem quando sua mãe saía para universidade ela dançava, quando tinha um alivio de alguma preocupação e tinha a mente para amor e dizia que era A chuva e amor romântico, que estava relacionada ao deus Siva e reapresentava o alivio que traz a chuva depois do calor o despertar da natureza e do amor romântico ela a chamava de raga megh.

Lembro quando fizemos uma peça A dama de alaúde, onde representava o sentimento a ternura e a solidão de uma dama que procura o consolo nos três cervos e no toque da Vina do alaúde que um instrumento musical de sete cordas e ela tocava maravilhosamente. Este dança chamava-se de raga todi. Foi nesta música que entendi que a solidão é um deserto que cada um sente em cada estado da alma e sempre a sua vontade.

Nas noites no começo da primavera tinha uma dança que era chamada A Alegria da Primavera, que se dava o nome de raga vasant que representava a alegria da primavera e era dançada debaixo de uma arvore recém-florida e o casal dançava sendo acompanhado de um tambor.

Lembro-me no dia 18 de novembro de 1967 oito dias depois de ter perdido meu pai estava em casa quando eu soube a noticias que seu baba tinha tido um infarto e veio a falecer. Imediatamente fui sua casa encontre todas luzes acesas e cheiro de incenso por todos lados e um som de dor e lágrimas e pétala de flores no meio da sala no centro o corpo envolto em pano de linho estava o corpo do seu pai. Está cena jamais saíram da minha mente.

Três meses depois do funeral ela voltou a dançar todas vezes na quarta e nas sextas e era sempre o raga.

Por volta do ano de 1972 quando ela dançou pela última vez para mim, uma dança que tinha o nome de raga Ialit e representava A despedida dos amantes e Rutajit explicou-me depois que representava. Era a dedicação ao amanhecer e as novas esperanças e também a despedida de seu amado com um misto de ternura e tristeza, a dança tinha som suave e apaixonante. Foi então que entendi que mesmo uma mulher mais sincera esconde algum segredo no fundo do seu coração e ela era uma delas.

Depois deste dia ainda fui varias vezes a sua casa e ela sempre chamava para confortar sua alma indiana, onde seus deuses foram tão cruéis e ao mesmo tão generosos para comigo.

De repente eles foram embora e nunca mas eu os vi. Mais o convivo que tive com estes estranhos significaram muito para mim. Pois aprendi a lidar com os sentimentos. Aprendi a compreender as reais diferenças do amor entre os seres humanos e a entender que somos iguais cheios de falsos moralismos, onde cada um se julga merecedores e puros. Aprendi que o orgulho e o carma que atrapalha a alma. Aprendi que vaidade almoça o orgulho e janta o desprezo. Aprendi que o destino conduz o que consente e arrasta o que resiste. Aprendi que a menor distancia entre dois pontos nunca é uma reta. No amor representa a mesma suposição é sempre uma incógnita.

Meu amigo Aníbal Malequê estou sensibilizado com sua presença e ouso a lembrar de sua mãe quando nos contava a historia da arvore caída lembra. Dizia:

Aquele que se sente ferido pela adversidade, devem ter coragem, pois dias melhores virão e certamente, em que, como o velho pinheiro petrificado, poderão realizar um grande e nobre missão em benefício de seus semelhantes.

O que quero te dizer ao longo destes anos na minha vida passei por varias adversidades e nunca esqueci desta historia. E foi com está historia que tive forças para levantar e sempre digo que tudo que acontece em nossa vida nada é por acaso.

Lembramos sempre que o importante é ver que a nossa ânsia é vã, gozemos o dia de hoje, que incerto é dia da manhã.

Portanto, compartilhamos com as nossas crenças e com a nossa fé, para que sejamos sempre amigos.

Obrigado amigo...

3 comentários:

Unknown disse...

Estou convencido e ao mesmo tempo surpreso pelo fatos apresentados em seu post.
Fico justificadamente e sempre auspicioso e feliz em saber que o amigo tinha grande respeito a nossa família.
As palavras voam mais os exemplo ficam.

Unknown disse...

A Beleza da cultura hindu é essa forma de se expressar por meio da música.Admiro muito você em ter tido está sorte de conviver com está cultura. Parabéns amigo hoje colher frutos das experiências adquiridas por estes povos...e o melhor sem ter que se deslocar para seus país de origem.

Unknown disse...

Estou verdadeiramente envaidecido com o coração a pulsar de felicidade. Suas palavras são ditas com simplicidade de uma água que cai na terra para germinar e semear vida.
Gosto das suas postagem, estais de parabéns.Agora eu sei porque Sorah o admira...